Já começo respondendo a pergunta do título: Não!
Bem-me-quer/Mal-me-quer... Nem um nem outro, pra ser mais exato... |
INTRODUÇÃO (I):
Não é novidade para ninguém que vivemos numa sociedade em que o
relacionamento amoroso tradicional tenta, sem muito sucesso, se manter
hegemônico. Seus elementos são curiosamente simples: Pai, mãe e filhos (as),
sendo que os últimos estão fadados a se tornar o primeiro ou o segundo,
conforme o sexo, o qual deve
ser imutável, não variando em
genética, gênero e orientação.
Ou seja, se nasceu com cromossomos XY, está determinado que (1)
será um homem pelo resto da vida e (2) se interessará sexualmente por mulheres
pelo resto da vida. Do outro lado da moeda temos as pessoas que nascem com
duplo cromossomo X, as quais (1') serão mulheres pelo resto da vida e (2') se
interessarão por homens pelo resto da vida... De preferência um só.
Tão velha quanto a própria humanidade é o hábito de separar
internamente os seres por suas características. Os métodos mais antigos são a
divisão por cor da pele, aparência física e sexo, justamente por sua facilidade
em serem percebidos visualmente. Cada um desses métodos é independente e,
consequentemente, cumulativos, sendo possível que alguém seja caracterizado com
base em todos eles. A sociedade ocidental, fortemente influenciada pelas
culturas grega e romana, nunca chegou a ter um sistema de castas propriamente dito,
mas em alguns momentos chegou perto.
No que diz respeito a sexo e sexualidade, pouca coisa se alterou
no decorrer dos séculos milênios.
Por razões biológicas, os indivíduos masculinos, cujo organismo é
mais abundante em testosterona, possuem maior força física e estão mais
propensos à violência deliberada que os indivíduos femininos, os quais têm a
capacidade de gerar filhos. Só isso já é o bastante para torná-los brutalmente
diferentes entre si. Não vem ao caso dizer quais mudanças nessa diferenciação
ocorreram desde então, surgindo, desaparecendo, crescendo ou diminuindo, mas é
importante ressaltar que algumas melhoraram a qualidade de vida em geral,
outras não.
Voltando ao período atual, o cenário que temos é que os homens
(boa parte deles) sente necessidade de demonstrar sua superioridade em diversos
aspectos da vida social. Fazem isso através do poder moral e de decisão que
exercem entre seus semelhantes (popularidade), poder econômico, força física e
ímpeto sexual (para me referir a esse conjunto de “critérios de poder” vou usar
a sigla CP no decorrer do texto). O último é o que mais nos interessa até aqui,
apesar de estar interligado aos demais. No caso das mulheres temos que elas
(boa parte delas) têm como obrigação ser essencialmente familiares restringindo
seu habitat ao ambiente doméstico, não dispondo dos CP. Resumindo: acredita-se
que mulheres não precisam deles, então por que se importariam com eles?
Como proceder? |
O sucesso de uma mulher é do tamanho do sucesso do namorado/marido
dela. Em contrapartida, o sucesso de um homem está no quanto ele consegue
demonstrar para o resto da sociedade sua excelência nos CP. Dentro do modelo
familiar tradicional, o homem é a figura pública e os demais componentes
dependem diretamente dela. Essa ideia está arraigada na cabeça das pessoas há
incontáveis gerações... Tanto de mulheres quanto de homens.
INTRODUÇÃO (II):
Também existem diferenciações internas entre os grupos de homens e
mulheres. No caso delas, a mais gritante é pela adequação aos padrões de beleza
exigidos. O padrão de beleza existe também para os homens, mas é secundário.
Para mulheres, pode ser a diferença entre a glória e a sarjeta.
O padrão de beleza é algo que se altera no tempo e no espaço,
variando conforme os mandamentos da cultura vigente. Exemplos não faltam:
Atributos físicos (simetria corporal, formato da face, medidas de busto,
quadris, cintura, coxa...) é o principal, em segundo plano ficam o uso de
roupas de determinado tecido/formato/marca, acessórios (sapatos, bolsas,
brincos, pulseiras, anéis, etc.) e por aí vai, passando por carros, perfumes
(...) e comportamentos, os quais dependem, na maioria das vezes, dos
itens retro descritos.
Um diagrama de Venn, muito mal-feito, por sinal |
O método mais básico para definir se uma mulher se encaixa num
padrão de beleza se traduz na seguinte pergunta: ELA É SENSUAL? (ou seja, você
acha que ela é sedutora pela forma de seu corpo, roupas que usa e etc.?).
Para homens funciona com CP. Não há como dizer que um critério é
mais importante que outro, apesar de a força física em si ser mais um caso de autoafirmação
que de afirmação perante outros indivíduos e o poder financeiro é quase
supremo, em razão do sistema econômico derivado do liberalismo keynesiano
atualmente instalado. É mais uma combinação sutil entre eles que cria o limite
entre os famosos e odiados termos MACHO-ALFA e MACHO-BETA. Apesar de a
denominação ser muito mais aplicada ao se referir a animais não humanos, ela
pode ser “emprestada” para a ocasião, mas em um aspecto majoritariamente
social, ao invés do biológico.
O alfa é aquele que se sobressai em vários aspectos em relação ao
beta, como resultado ele tem muito mais facilidade em superar as mazelas do
dia-a-dia: boa base financeira, acesso a informação de qualidade, uma posição
social agradável e, o que realmente importa aqui, satisfação sexual com um
indivíduo do sexo oposto.
Imagem meramente ilustrativa |
O beta é um coitado, e pode ser tanto por mérito próprio quanto
porque a natureza e o acaso não ajudaram muito ao longo da vida. Ele possui uma
ou mais deficiências nas CP que “minam” sua eficiência nas restantes e o tornam
um coadjuvante nos círculos sociais aos quais pertence.
O PROBLEMA FRIENDZONE:
Como o nome já denuncia, friendzone é um espaço imaterial nas
relações interpessoais correspondente à amizade. Em termos toscos, quem é mais
do que um conhecido habitual e menos que um caso amoroso se encontra na zona de
amizade. Até aqui tudo bem...
Entretanto, a palavra friendzone apareceu pela primeira vez já com um sentido
pejorativo e desagradável. Ela surgiu num episódio do seriado FRIENDS (felizmente extinto) quando os personagens Ross E Rachel, que terminaram juntos, conseguem superar os dramas de sair de uma amizade descompromissada e iniciar um romance.
O termo se popularizou em blogs e redes sociais acompanhado de
vídeos, imagens e até notícias de homens que se humilham perante uma garota
pela qual se sentem atraídos na tentativa de agradá-la, mas esta ignora seu
“esforço” e não lhe “dá uma chance”, por assim dizer. Essas publicações têm, ao
menos na maioria das vezes, o intuito de ridicularizar o comportamento desses
rapazes e, em outras, criticar as moças que são a razão de terem tomado tais
atitudes.
Verdade seja dita: Quem nunca se sentiu atraído por outra pessoa
mas não teve o sentimento retribuído? Dentre os mais de 7 bilhões de humanos
existentes (incluindo nesse número os que não exprimem noções de sexualidade e
vida em casal) obviamente há casos de pessoas que não sofreram rejeição, mas
vamos ignorá-los por hora. O fato é que esse fenômeno é extremamente comum, mas
a tendência geral é reagir mal a ele... Exageradamente mal, às vezes.
O parágrafo anterior foi escrito pra servir a todos os gêneros
sexuais, já que isso não é exclusividade do masculino, mas é mais comum com ele, já que o pré-conceito estabelecido é de que, para início de um relacionamento, a iniciativa deve ser
masculina.
A pessoa que desenvolve afeto pela outra, mas não alcança o
objetivo tem consciência de que o nível máximo de relacionamento que
pode conseguir é o de amizade. E “poder conseguir” não quer dizer que “vai
conseguir”, é possível que nem amigos sejam, no fim da história.
Quem passa por essa situação sabe como é chato. Ninguém gosta de
ser recusado, muitas vezes em detrimento de outro indivíduo. Explico com um
exemplo, o mais comum que pude encontrar: Um moço se interessa por uma moça, mas ela não se interessa por ele,
ignorando suas investidas e todo o resto, ela gosta dele apenas como amigo,
mas só quando ele não está dando em cima dela, óbvio. Eventualmente, ela inicia um relacionamento com outro moço. É
irrelevante saber que tipo de afeto existe entre eles, pois se interessaram o
mínimo um pelo outro que isso permitiu o início da relação. O fator restante
dessa equação fica com a sensação de que seu esforço para atrair a atenção da
moça e, de alguma forma, fazer com que ela se interessasse por ele foram em
vão, fica frustrado e, diante da inocência que acredita ter, tenta descobrir “o
que foi que deu errado”.
Quando se combina a situação em questão com os conceitos
introdutórios do texto, a mistura torna o produto final muito pior do que é até
aqui.
Penny e Leonard (adoro esse seriado) e mais imagens de friendzoneds AQUI |
A mulher, por ter sido considerada um ser de segunda classe em
relação ao homem, acabou tendo seu way of
life moldado contra sua vontade. A cada menina que nasce no mundo, o que se
espera é que ela se torne uma donzela, dotada de graça, beleza e algum talento,
mas nenhuma autonomia. É destino dela aguardar por um “homem de valor” (um “bom
partido”) que venha tomá-la para si. Gosto de chamar isso de “princesificação”
da mulher.
E se ele é um homem de
valor, certamente “a merece”. Como ela poderia recusar alguém como ele? Não faz
sentido...
Aquela história de que o sucesso de uma mulher é igual ao sucesso
do acompanhante masculino dela estraga tudo. Quando se parte desse princípio,
fica determinado que, na hipótese de rejeitar um companheiro que a eleve aos
olhos da sociedade (pelo simples fato de ele ser um “bom partido” para ela), não está se dando o devido valor, está agindo contra o bom senso, contra as convenções mais básicas nas quais se sustenta a
sociedade, contra a própria natureza (!). O interesse dela em ter ou não um
relacionamento e de que forma ele vai se desenvolver é deixado de lado.
Para o moço que foi rejeitado, essa é a única
explicação aceitável. Afinal, suas intenções eram puras. Tudo que ele desejava
era o bem da moça, mas só se ela estivesse ao lado dele (“ao lado” é meio
forçado, ele a queria para si, e pronto). Incapaz de reconhecer a liberdade de
escolha dela, começa a buscar culpados. Culpa a desmoralização da sociedade por
reproduzir a ideia de que o que importa num relacionamento é unicamente a
satisfação sexual em detrimento dos valores familiares, a superexposição das
mulheres (e de homens também, oras) a um mundo de prazeres sem responsabilidade, culpa o(s) cara(s) com quem ela
decidiu se relacionar, por considerá-lo (s) inferior (es) a ele. Ele deseja
intensificar o decadente processo de princesificação. Começa a afirmar que os
homens como ele são vítimas de um sistema que privilegia os machos-alfas,
detentores dos CP, e sua facilidade em conseguir parceiras sexuais. A pureza
das intenções dos alfas não interfere em nada, segundo eles, pois saem ganhando
com isso, de qualquer maneira. Enquanto isso, as mulheres passam a ser
consideradas sanguessugas que só se importam com o que têm a ganhar enquanto
estiverem com o suposto alfa que escolheram como parceiro.
Uma salva de palmas, pfv |
Aliás, esse é outro preconceito muito comum que deriva do que foi
dito na introdução: Como o homem deve ser para os outros um exímio exemplo,
isso inclui um bom desempenho sexual. A satisfação sexual feminina é uma
preocupação terrivelmente recente. Só a satisfação masculina importava, há
alguns anos. Como resultado, ao homem que conseguir fazer uma mulher se render
a seus encantos, automaticamente era conferido o status de sedutor, ou seja, um
CP muito importante. Isso é percebido com extrema facilidade atualmente: Um
homem que “pega muitas” recebe elogios em rodas de amigos enquanto uma mulher que “se deixa ser
pega por muitos” corre risco de ser malvista pelo resto da vida.
Esse tipo de pensamento continua mantendo as mulheres dentro de
gaiolas (ou torres guardadas por dragões), não permite que elas expressem seu
interesse sexual, que sintam prazer em conhecer outras pessoas, que exercitem o
direito de escolher fazer sexo quando e com quem interessar, bastando ter a
anuência da outra parte (já que, sendo a outra parte um homem, sua anuência é
presumida... afinal ele é um homem e homens são todos iguais, certo?)
Tanto mulheres quanto homens são livres para escolher seus
parceiros. Alguns decidem permanecer com um (a) mesmo (a) parceiro (a) pelo
resto da vida, outros não decidem coisa alguma e tem aqueles que ficam ente
esses dois extremos. E quer saber qual a melhor parte? TODOS ESTÃO CERTOS.
Dentro da dinâmica dos relacionamentos amorosos, enquanto as regras
internamente estabelecidas pelos envolvidos forem respeitadas, tudo correrá
dentro da perfeição.
Acreditar que um homem não pode se relacionar com uma mulher como
amigo é reproduzir a ideia de que homens são predadores sexuais descerebrados e
mulheres são princesinhas que precisam ser protegidas deles a todo custo, até
que tenham idade o bastante para se unir (não que seja escolha dela, é claro)
com um desses zumbis superexcitados, não por gostarem dele, mas por conveniência.
RECADINHO PARA QUEM ESTEVE/ESTÁ/ESTARÁ NA FRIENDZONE:
detesto esse seriado |
Várias vezes a frase “Há muitos outros peixes no oceano” vem à
cabeça. Infelizmente não existe nenhuma garantia que alguém vá se apaixonar por
você da mesma forma que você se apaixonar por essa pessoa. Não dá pra fazer nada
quanto a isso, sinto muito. Às vezes acontece, é assim que funciona.
Parte da lição de como lidar com a desilusão é aceitar esse fato.
A outra parte é o que fazer depois. Comece imaginando quantas pessoas você
já pode ter deixado nessa evitada área e nunca se deu conta disso. Gostar de
uma pessoa é diferente de se apaixonar... Quem gosta de verdade de alguém se preocupa
com seu bem-estar, com sua felicidade e quer sempre que essa pessoa esteja
feliz e fica feliz com isso. É isso que significa ser amigo/estar na friendzone.
A vida já é curta, se você ficar desperdiçando ela com recalques,
picuinhas e medo de ser feliz, vai acabar perdendo as melhores partes.
BÔNUS:
Escuta essa música da Britney e vê se aprende alguma coisa
aí... se apaixone por quem você quiser, essa é a ideia.
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